Cancro do pulmão – passado, presente e futuro

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Hoje comemora-se o Dia Mundial do Cancro do Pulmão.

Pese embora o cancro do pulmão represente um conjunto heterogéneo de subtipos de neoplasias pulmonares, com fatores de risco, agressividade e sobrevivências diferentes, por uma questão de simplificação vamos olhar para ele, no passado, no presente e no futuro como um só grupo.

Se bem que hoje seja uma das principiais causas de morte a nível mundial, no passado chegou a ser uma doença de declaração obrigatória, com raros casos confirmados. Um fator responsável pelo seu crescimento exponencial, inegável nos dias de hoje, é o tabagismo, cuja associação epidemiológica foi confirmada pela primeira vez em 1950, num artigo de Sir Richard Doll and Austin Hill’s publicado no Jornal Médico Britânicoescrito após a Segunda Guerra Mundial, quando era comum encontrar anúncios de incentivo ao tabagismo, com patrocínio médico, atestando a sua segurança.

Desde então, medidas de promoção da cessação tabágica, seja por aumento da informação, pela criação de consultas específicas ou mesmo pelo aumento do custo do tabaco, conseguiram a redução da população fumadora, com diminuição mensurável da mortalidade. Tal redução não foi uniforme entre classes sociais, entre géneros e entre países, com menos impacto nas classes sociais mais desfavorecidas e nos países menos desenvolvidos e, numa fase inicial, no género feminino. O tratamento era sobretudo cirúrgico, mas associado a elevada morbilidade e mortalidade em virtude da combinação da agressividade tumoral e cirúrgica. O tratamento médico surgiu na década de 70 com os primeiros fármacos de quimioterapia e com a radioterapia, na década de 80.

Presentemente (dados de 2022), apesar do cancro do pulmão ser o 4.º mais diagnosticado (11,6%), atrás do cancro da mama (13,8%), colo-rectal e próstata, é o mais fatal, responsável por 19,5% das mortes. Tal deve-se ao facto de o tumor, na sua fase inicial, momento em que a probabilidade de cura é mais alta, não estar associado a sintomas, empurrando a maioria dos doentes para um diagnóstico tardio (75%) e em fase avançada, logo com sobrevida mais baixa. As manifestações habituais nesta fase são inespecíficas, como perda de peso e/ou apetite, cansaço, dispneia (falta de ar) e rouquidão, hemoptise (tosse com expectoração com sangue), infecções respiratórias de repetição, dor torácica e tosse com agravamento progressivo.

A bem da verdade, fruto de estudos epidemiológicos, outras causas para além do tabagismo foram identificadas, como a radiação (radônio), asbestos, poluição e risco familiar, mas cujo peso global não supera o risco deste. Pese embora a melhoria na caracterização imagiológica, no diagnóstico, no estadiamento e no tratamento (médico – esquemas de quimioterapia/radioterapia – ​e cirúrgico) na redução da invisibilidade sem redução da capacidade de cura, ainda não se observaram alterações significativas na sobrevida. Novos alvos imunológicos, fruto do conhecimento crescente da genética tumoral, têm aberto novas e promissoras linhas de tratamento, que em conjunto com a cirurgia, que abrange doentes e estádios anteriormente com maus resultados, ou isoladamente, poderão ter impacto na sobrevida e no tempo livre de doença.

O foco, apesar de fixo na prevenção, passará no futuro pela implementação de projetos de diagnóstico precoce, com recurso a tomografia computorizada de baixa dose (TCBD), projeto que em Portugal peca por tardio em virtude de provas dadas com dez anos (Ensaio Nacional de Triagem Pulmonarque mostrou redução da mortalidade em 20%, tal como no Julgamento de Nelson). O rastreio permitirá que um número crescente de doentes seja diagnosticado numa fase mais precoce, aumentando a probabilidade de cura, uma vez que quando este é tardio a cura a cinco anos varia entre os 6-33%, dependendo se já está presente doença à distância, em contrapartida com 60-70%, quando o tumor é diagnosticado numa fase inicial, muitas vezes assintomática.

O rastreio combinado com a cessação tabágica precoce e o desenvolvimento de tratamentos personalizados, sejam cirúrgicos (pela utilização de ressecções menos agressivas, excisando segmentos e não lobos pulmonares e pela utilização de estratégias cirúrgicas menos invasivas) ou médicos (pelo desenho de um tratamento ditado pelas alterações genéticas do tumor e suas variações ao longo do tempo e, quando necessário, com utilização de esquemas de radioterapia mais eficientes e menos tóxicos), melhorará a sobrevida, tempo livre de doença e qualidade de vida, pela implementação de uma medicina de precisão.

Se é fumador, sobretudo se tem uma carga tabágica alta (anos de fumador e consumo significativo) e se tem história familiar de cancro do pulmão, deve procurar o seu médico, com dois objetivos – para iniciar um programa de cessação tabágica, pois a sua mortalidade por cancro reduz 20% ao sétimo ano de abstinência e porque poderá ganhar com rastreio com TCBD. No futuro próximo, a inteligência artificial poderá ajudar as múltiplas especialidades que tratam o cancro do pulmão pela criação de processos mais eficientes, precisos e consistentes.

Em tom de finalização, deixo um desejo que é comum aos elementos que tratam de perto os pacientes com cancro do pulmão – que a revolução que se avizinha venha possibilitar que o cancro de pulmão se torne uma doença crónica, ao invés de uma aguda e fatal.

Se é fumador, comemore este dia iniciando a caminhada da cessação tabágica.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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