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Os comerciantes instalados à beira-mar já avisam os clientes: se comprarem comida, tentem escondê-la ao máximo. Mas nem assim se salvam. As gaivotas, que segundo uma descrição do O guardião“parecem perus”, sobrevoam para identificar as vítimas, escolhem o petisco mais apetitoso, atacam e o ciclo repete-se durante todo o dia.
Não são agressivas — só querem mesmo comer —, mas andam em bando e, mal avistam os gelados (ou qualquer comida, não são criteriosas na escolha da refeição) nas mãos dos veraneantes, organizam-se, esperam pelo momento certo e atacam. Depois de deixarem uma ou outra criança a chorar, aterram e devoram o que roubaram num banquete onde se vê pouco mais do que penas e asas no ar.
No Reddit, um habitante de Bath afirma que as gaivotas “estão piores de ano para ano” e que, em apenas 10 minutos viu várias pessoas a serem atacadas à porta de uma loja que vende comida. “E também parecem ter como alvo cães”, nota. No final da publicação deixa uma questão: “Há alguma coisa que a comunidade de Bath possa fazer?”
A verdade é que não há muito que possa fazer directamente porque as gaivotas são uma espécie protegida, que tem vindo a decrescer em número apesar dos relatos de ataques parecerem cada vez mais frequentes. O melhor a fazer é manter as cidades limpas e ficar longe das gaivotas. Estas aves adaptam-se aos contextos onde se inserem e, por isso, apesar de esta dieta de gelados, hambúrgueres e batatas fritas não ser a mais natural, há tanto desperdício alimentar nas cidades que as gaivotas acabaram por se habituar a essa comida.
Estratégias para afugentar gaivotas
No Reino Unido, já se tentou de tudo para controlar as populações de gaivotas: abate, retirada de ovos, contraceptivos e águias-de-Harris, explicou Rui Rufino, ornitólogo que trabalhou por mais de duas décadas no Instituto de Conservação da Natureza, ao PÚBLICO em 2018. Mas “não há solução, há forma de controlar”, acrescentou. Hoje, em algumas regiões, vale a pena denunciar os ataques às autoridades locais e, em Liverpool, há águias-de-Harris a afastar as gaivotas.
Em Portugal, e particularmente no Porto, os ataques de gaivotas também se multiplicam. A Câmara Municipal do Porto (CMP) reparou no problema em 2008 e desde então foram feitos vários estudos. O objectivo era que ainda este ano fosse posto em prática um plano de acção que previa que os ninhos das gaivotas fossem inviabilizados ou através da sua remoção ou da aplicação de óleo que impeça o desenvolvimento do embrião.
O Plano de Acção para o Controlo da População de Gaivotas dos Municípios Costeiros existe desde 2022, mas as medidas nele propostas ainda não avançaram para o terreno. Em Fevereiro, a secretária executiva da AMP, Ariana Pinho, foi à Assembleia Municipal do Porto anunciar que estava em “fase de lançar um procedimento para implementar as acções previstas no plano” de controlo de gaivotas. Acrescentou que o passo seguinte seria dado “nos próximos meses”, mas acabou por não ser. O atraso na execução do plano inviabiliza algumas acções dissuasoras como as medidas que incluíam a inviabilização de ninhos, uma vez que os ovos da gaivota-de-patas-amarelas, a espécie mais abundante na região, eclodem entre Maio e Junho.
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