Vegana, Maria Casadevall defende que movimento seja conectado a causas sociais

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  Foto: Pupin+Deleu |  Artes: Mariana Sartori

Para a atriz, a causa animal deve estar atrelada a movimentos que combatem injustiças causadas pelo sistema capitalista

Imagem: Pupin+Deleu | Arte: Mariana Sartori

A atriz Maria Casadevall (36) decidiu parar de comer carne vermelha há 21 anos. O motivo? Uma questão ética. Quando ela ainda era adolescente passou a se perguntar por que os animais do seu convívio recebiam afeto e outros eram submetidos à exploração e ao abate. Então, deu o primeiro passo e vivenciou um processo de anos até se tornar vegana.

Em entrevista para Planeta, a atriz conta que começou tirando a carne vermelha, depois o peixe. “Aos poucos fui me inteirando mais sobre o assunto, passei a compreender o impacto ambiental da pecuária, a relação com a minha saúde física, a dimensão política e social que envolve a produção deste tipo de alimento, assim fui deixando de comer todo tipo de carne animal”, diz.

Ao longo de seu processo de descoberta, Maria também começou a considerar deixar de comer ovos, leite e seus derivados: “passei a compreender que a indústria de laticínios é tão cruel e danosa quanto a indústria de abate para produção de carne animal”.



Foto: Arquivo pessoal | Arte: Mariana Sartori

Parte de um sistema

O veganismo propõe a libertação animal e, para a atriz, não basta deixar os ingredientes de origem animal fora do prato, mas sim fazer parte de um movimento de origem popular, conectado a causas políticas sociais: “que combatem as injustiças de um sistema que coloca o dinheiro em primeiro plano, sobretudo acima da vida”.

Tudo está interligado dentro desse sistema desigual e orientado pelo lucro em que vivemos. “É o que está decidindo quais corpos têm ou não direito ao afeto, quais corpos têm ou não direito à vida”, explica Maria, ao denunciar o especismo que molda a sociedade.

Em linhas gerais, especismo é a discriminação entre espécies. Basicamente, é eleger quais espécies de animais são melhores do que as outras. Historicamente, a humanidade se coloca como superior em relação a outros animais e também escolhe quais devem ser exploradas (como é o caso de bois, porcos, frangos e peixes) e quais querem amar (como cães e gatos), por exemplo.

O fim da exploração animal também traria o fim da exploração humana dentro da indústria da carne, que tem um dos maiores índices de insalubridade trabalhista, sobretudo psicológica

– Maria Casadevall sobre os problemas da violência que acontece nas fazendas industriais e nos abatedouros

Dentro e fora das redes sociais, a atriz utiliza a sua influência para trazer conscientização para diversas outras causas sociais. Ela conta que a sua compreensão política começou a chegar a ela como consequência do que aprendeu com a causa animal. “Foi o primeiro despertar para a injustiça violenta cometida contra outros seres que se reproduz de forma estrutural”, explica.

“Fui me dando conta que além de explorar outras espécies, seres humanos também são submetidos à mesma lógica: corpos são racializados e generificados”, diz Maria.



Foto: Arquivo pessoal | Arte: Mariana Sartori

Esse sistema, segundo Maria, só continua funcionando se a sua estrutura seguir como racista, classista, misógina, especista, homofóbica e transfóbica, “perpetuando injustiças e desigualdades”. E é o que acontece.

Meio ambiente

Se a humanidade enfrentasse uma transição em grande escala para o veganismo, muitos dos problemas ambientais poderiam ser revertidos e sanados. “Terras são desmatadas para criação de gado e plantação de soja, que serve para alimentar este gado”, explica a atriz, que também enxerga um futuro com mais espaço para discussão da reforma agrária e demarcação de terras indígenas.

“O desmatamento em grande escala, que acontece para a criação de animais, perpetua a lógica violenta e desigual dos grandes latifúndios em território nacional, e interdita debates imprescindíveis para a soberania alimentar”, diz Maria, que adiciona à lista de prejuízos, o desequilíbrio marítimo que a pesca predatória e industrial causa.

Dia a dia vegano

Se antes, a atriz passava por perrengues na hora de se alimentar nos bastidores de seus trabalhos, hoje não mais. Ela conta que situações assim estão cada vez menos comuns. Com o veganismo, ela aprendeu a estar mais na cozinha preparando seu próprio alimento e se garantindo nas marmitas.

No lugar de privilégio que ocupo, tenho cada vez mais espaço para pautar a diversidade de alimentos para todes no meu local de trabalho

– Maria Casadevall, atriz, em entrevista para Planeta

Maria aproveita o seu tempo livre para fazer trabalho voluntário e realizar parcerias pontuais com ONGs e instituições relacionadas à causa animal. Uma organizações que mais tem envolvimento prático e afetivo é o Santuário Vale da Rainha, que resgata e abriga animais, principalmente os que foram vítimas da indústria alimentícia: “Todas as vivências lá me transformaram profundamente”.

Mesmo quando pode estar in loco atuando em prol dos animais, a atriz faz questão de oferecer apoio financeiro, criando pontes e trazendo visibilidade para a causa em suas redes sociais.

Maria Casadevall dá dicas para quem quer aprender sobre veganismo
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